Querido Diário – #42

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Sei que começo esse diário tardiamente, mas, em minha defesa, nem por um minuto a possibilidade de escrever fez parte do plano.

(Que plano? Foi uma palavra que usei para fingir que, em algum momento, tudo isso está sob controle.)

O dia é 42, e a foto é de uma xícara de café que tomei ainda pouco. Tenho feito do Instagram um diário. Imagens do simples, que normalmente não chamam minha atenção. Eu poderia até fazer um texto reflexivo falando sobre pequenos detalhes que estão perto da gente o tempo todo. Que, talvez, esse confinamento seja uma oportunidade que a vida nos deu para estrarmos em contato com a nossa essência, refletirmos sobre fé, amor ao próximo e lindos passarinhos na janela.

Até pensei sobre isso na primeira semana. Hoje, no dia 42, a última coisa que quero é escrever um texto significativo como legado para humanidade. O café de hoje, foi igual ao de ontem, que foi igual ao de anteontem, que foi igual ao dia #1. Mas, a cabeça da gente está na mais perfeita desordem.

Não cortei o cabelo, não fiz faxina, nem fiquei inquieta tirando tudo do lugar. Não existe em mim uma inquietação física. Sim, vai me dar trabalho perder esses quilos, que vão me castigar no dia que eu precisar usar uma calça jeans novamente. Mas, tive vontade de mudar meu sobrenome. Especialistas devem ter uma explicação. Mas o Means não é meu, e se você ainda não sabia disso, um dia conto essa história.

Tentei aproveitar o tempo abrindo uma tela em branco ou uma folha branca. Ora, a mente estaria igualmente vazia? No entanto, seria esquisito dizer que o suposto vazio da minha mente é invadido pelo tanto de palavras que tenho preguiça de desenvolver?  (Hein?) Quando estou apaixonada até tenho uma certa facilidade em harmonizar palavras bonitas. Mas, detesto o compromisso ter que criar um texto inteligente, com um vocabulário mais refinado e concordâncias impecáveis. Bem, se esse confinamento tem servido para reflexões, cheguei a conclusão que a ultima coisa que quero na vida é ter, inclusive, coesão e coerência. E textos, infelizmente, me dão esse trabalho existencial.

Não escrevo ficção. Prefiro compartilhar meu coração, para, quem sabe, ajudar a algum outro, que precisa de uma tradução para o que sente. Mas, tem muita saudade em mim. Escrever sobre ela, é senti-la duas vezes. Eu achava que tudo que se chamava Saudade na minha vida era apenas o meu pai. Todo resto era algum tipo de falta. No entanto, hoje, no dia 42, consigo chamar de saudade o que sinto pelos meus irmãos, por exemplo, que não vejo há 42 dias. Então, nop. Não vou reviver 42 dias de saudade.

Quero escrever sobre a faxina que não fiz, dos quilos que ganhei ou de como olhar no espelho tem sido um teste de resistência. Quero falar mal das pessoas e de como são irritantes. Eu sou também, mas o texto é meu. Quero falar do dia que olhei pra varanda do meu quarto, sentindo uma brisa maravilhosa e botei um fone com uma música linda, mas meus olhos foram estuprados por uma luz, que só faltou uma buzina para eu achar que era um caminhão me atropelando. Algum vizinho imaginou que eu certamente buscaria um momento de paz, e apontou uma luz irritante pra cá. Sim, ele sabia que era eu. O universo disse pra ele.

(Não vou concluir, porque este é um texto mal escrito)

Acho que volto amanhã.

Notícias além-mar

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Acordei com barulho de obra… Pensei: “Por que meu pai tá batendo esse martelo a essa hora?”. Não, não… Não era o meu pai. Acordada, é claro que é o vizinho. E já tinha passado do meio-dia. Não sei o dia do mês, nem da semana. Férias é meu nome.

Na verdade acho que hoje é segunda, porque minha mãe ontem foi à igreja. Ou será que foi anteontem?

O dia está nublado. Gosto de um cafezinho em dias nublados. A facilidade de ter uma cafeteira que prepara sua bebida com a simplicidade de usar apenas uma cápsula, é maravilhosa. Sim, sei que ultimamente ando com um discurso sustentável…mas, desculpa, planeta, fazer café dá trabalho. E não sei fazer.

Meu criado-mudo está acumulando livros. Em minha defesa, estou com a leitura em dia. Em março do ano passado me desafiei a ler pelo menos um livro por mês, e consegui encerrar o ano com exatamente 23 livros lidos. É pouco para um “verdadeiro” leitor, mas para mim foi uma grande vitória, até porque, só leio antes de dormir.

Queria ter o mesmo sucesso com alguma meta para escrita, mas… Dizem que remedinhos comprometem bastante nossa criatividade. Acredito que essa seja uma boa explicação. Melhor acreditar que algo bloqueia minha criatividade do que aceitar que não tenho mais. Acho.

Vida social, não tenho muita. Fico mais sociável durante o período letivo. Sei que esses diazinhos nublados serão devorados por dias de sol do verão, que me obrigarão a sair de casa, mas…por esses dias, tô de boa em casa com minhas séries e livros, sem saber como que o mundo tá funcionando. Marina já se vira sozinha para um monte de coisa, e isso já representa praticamente 90% de sucesso com o compromisso com o “fazer nada”.

Problemas? Tenho alguns, mas já tive piores. Se estou num período bom? Acho que sim. Durmo bem, choro pouco e raiva mesmo só sinto quando leio notícias. Sorrio bastante. Mas, o sorriso faz parte da minha natureza.

Dinheiro? Tenho não, senhor.

Vida amorosa? Não sei te explicar. A única boa notícia que posso dar sobre isso é que estou sem paciência para fazer merda o tempo todo. Meu dedo é podre, e, finalmente (quem sabe?) estou cansada. Aliás, não contem pra minha mãe que eu disse “podre”, mas não tenho como mudar uma expressão popular, com o mesmo sentimento, usando outras palavras. As pessoas dizem que eu tenho que sair mais, conhecer novas pessoas. Me deixe. Eu que tenho que mudar. Mas isso é papo meu com minha autoestima.

São 21:02. Estou por aqui desde mais ou menos o barulho da obra. Agora só escuto a chuva. A TV não está ligada. Super inédito isso. A voz de Marina está longe…. ela fala, com entusiasmo, com alguma amiga ao telefone. Lavei a xícara de café. Marina decidiu que quer usar o computador. Eu disse que precisava acabar um texto. Quando vou comprar outro computador? Bem que estamos precisando. Não que usemos muito, mas, estou aqui há um tempão fazendo vários nadas e ela parece ter alguma urgência urgentíssima para tratar.

Chegou mais um livro hoje. Pela hora, já estou com vontade de ler. Beijo pra você que tá lendo aqui. Volto depois.
—-
Dia seguinte:

Parece que o assunto urgente urgentíssimo de Marina era tão urgente que se resolveu sozinho. Pois é, saí dos meus vários nadas à toa. Não voltei, porque… bem, quando deito é muito difícil saber qual o tipo de catástrofe ambiental me faria levantar antes do meio-dia do dia seguinte.

Sim, hoje teve barulhinho de obra. Não achei que era meu pai… Já sabia que era o vizinho. Uma pena que era o vizinho.

Tive um sonho esquisitíssimo. Não lembro detalhes, mas, além de ler, acho que ando assistindo a muitas séries. Ou será que sou criativa dormindo? Mas, sou supersticiosa… fiquei encucada. Meu pai achava meus sonhos bem enigmáticos e preocupantes.

Depois trago mais notícias do além mar?

Aliás, tô lendo um livro belíssimo do Valter Hugo Mãe: “A Desumanização”. A menina e sua irmã gêmea (recente falecida) jogavam garrafas ao mar, com seus pedidos. Sonhavam com um herói. Depois de tanto sofrimento, a menina achou que errou em colocar apenas papel nas garrafas. Deveriam ter colocado sementes, para que árvores crescessem no mar. Assim o herói acharia seus pedidos nas árvores, que o alcançariam.
Achei boa ideia.

Volto depois.

PS: sei que hoje é terça.

Para Danielle, minha filha.

(Procurando uns documentos, achei essa carta do meu pai, sem data)

Quero que saibas que a vida é uma guerra constante, fria, que às vezes nos amedronta.

A guerra é composta de muitas batalhas, e em cada batalha nos deparamos com inimigos diferentes e fervorosos, que nos obrigam a mudarmos constantemente as nossas táticas de luta.

É desta maneira que vamos nos aprimorando e amadurecendo na vida: observando as pessoas que nos rodeiam e tanto dizem que nos amam. Muitas delas não têm sabedoria e não conseguem esconder os seus próprios sentimentos.

Todas as batalhas são vencíveis, todas são superáveis. O importante nelas é que aprendemos a reconhecer nossos adversários.

Saiba que na sua idade você está apenas nascendo para vida profissional, e lutando por uma conquista, que você vencerá ou não. Dependerá de diversos fatores e das armas usadas nessa batalha.

Se o saldo for positivo será muito bom, entretanto, se for negativo será bom também, porque ficou a experiência e você conseguiu conhecer melhor algumas pessoas que te rodeiam.

Aprenda a observar as pessoas nos mínimos detalhes dos seus atos… Nunca pelas palavras, porque as palavras são enganadoras e os atos são verdadeiros, e é aí que elas se definem.

Tive uma juventude pobre, com pouco conhecimento e cultura, mas cheguei a algum lugar melhor que meus irmãos.

As minhas batalhas foram todas mortais, e venci todas, e hoje me sinto desgastado pelo tempo.

Agora já posso sentir que está muito próxima a minha vitória, falta muito pouco, dependo somente do tempo. Com a minha vitória todos nos beneficiaremos… você verá. Novos horizontes surgirão, e eu afirmo isso com certeza. Nada na sua idade é definitivo. Sem que você note novas oportunidades surgirão. Eu garanto.

Não se esqueça nunca de um detalhe muito importante: quando nossos inimigos, isto é, aqueles que torcem contra nós, pensarem que fomos vencidos, e nos verem com novas esperanças, com novos horizontes… se sentirão derrotados, porque não atingiram o seu alvo. E, então? Quem venceu?

Saiba que a sua capacidade e suas oportunidades são muito maiores que as que eu tive. Você será bem sucedida, onde reconhecerão o seu valor. Nunca use métodos ou táticas desonestas, para não abreviar o seu caráter. Por isso tenho 30 anos de banco e sou respeitado no meu trabalho, e pela forma de conduta que sempre tive. Muitos, ao longo desses anos, tentaram me prejudicar, mas nenhum deles hoje têm a tranquilidade que eu tenho. Não preciso mentir e nem me esforçar para ser o que sempre fui.

O meu alvo é a vitória para os meus filhos, e dar-lhes boas armas para viverem, lutarem e vencerem. Olhando para cima e para frente… Essa é a posição de um guerreiro, porque mesmo que perca a batalha, sua altivez é constante.

Com o pensamento voltado para Deus, nem a morte nos vencerá.

Tenha bom ânimo. A caminhada é longa, mas a vitória é certa.

Wagner.

Obs.: a caneta tentou impedir que eu terminasse de expor a minha ideia, mas não conseguiu. Sou insistente no que quero.

 

A insegurança, aquela…

O que é insegurança? Não vou procurar no Google, mas acredito de seja aquele passo que a gente dá para trás com medo de dar o para frente. Uns chamam insegurança de bom senso também, controle, cautela.Outros acham que é baixa autoestima. Mas, e se a gente parar de pensar nisso tudo, parar de conceituar, de colocar na balança e passar a seguir um sujeito chamado INSTINTO?

Não, eu não estou aqui para dar respostas. É que sou do tipo insegura, que morre de medo, mas que vai assim mesmo. Isso é bom? Talvez. Porque a expectativa de uma atitude é a parte mais difícil do processo. Acredito que seja disso que as pessoas têm medo… Mas, por favor, não me mandem não criar expectativas… Besteira. Quem criou essa modinha de “crie unicórnios, mas não crie expectativas” é alguém que precisa crescer. A vida já é difícil demais para NÃO criá-las. Que foi? Se relacionou com alguém e prefere se fingir de morta que começar a pensar os nomes dos filhos? Ai, gente, nome dos filhos eu não penso, não, porque já tenho uma, mas pensar nos cachorrinhos correndo no nosso quintal, ah, eu penso. Me viu no dia seguinte e me deu “bom dia de porteiro”, poxa, que pena…mas…eu nem gostava de cachorros mesmo. E, claro, que filhodaputa… Não tenho sangue de barata.

Mas, Danielle… Não é tão fácil assim. Eu sei. Rejeição é foda. A gente não tem estrutura emocional. Nada foi do jeito esperado, sonhado, imaginado. Uma merda. Mas, eu vou assim mesmo. Já me fudi? Muito. Já passei vergonha? Já. Eu sou exemplo pra vida de alguém? Não. E nem precisa ouvir nada do que estou dizendo, porque só sei consolar a mim mesma, porque me conheço e falo sozinha.

Bem, a vida bota toda qualidade de gente no seu caminho, que vai tentar te moldar o tempo todo, você percebendo ou não. Com a maturidade você se dará conta, assim espero, de quem você é e o que realmente é importante. Acho que já fui de tudo um pouco, e vou continuar modificando com o tempo. De repente as frases de feito que ouvimos o tempo todo por aí até passam a fazer sentido. Acho que você pode ser quem você quiser, assim como você pode se sentir feliz sendo alguém que quer aceito. Não sou eu que determino o tipo de felicidade universal. Só acho que segurança mesmo a gente não tem nunca. Vai fazer o quê? Esperar para ver no que dá? Se der errado a culpa não é sua? Mas, o risco de dar certo jamais terás, bebê. Vai lidar com as sobras do acaso?

Faço o que quiser da minha vida. Falo sempre, e faço, sim, mas vocês nem imaginam que essa pessoa confiante ainda mente para mãe quando sai “com um menino sozinha”. Não, nunca. Para sempre vou dormir na casa de uma amiga. Dentre outros disfarces que usava na adolescência. Fazer o que quero não quer dizer exatamente que o mundo vai funcionar do meu jeito. Minha mãe prefere que eu “durma na casa de uma amiga”, e seremos felizes para sempre. Caso contrário, não terei com quem deixar minha filha e serei virgem para sempre.

Qual a conclusão podemos chegar com isso tudo? Cara, pensaí. Já falei que não estou aqui para dar respostas. Mas, um conselho sábio que aprendi com o Capitão, e posso fazer a gentileza de compartilhar: “Kowalski, desliga essa caixola…siga seus instintos!”.

Só não esqueça de ser educado, porque ninguém é obrigado a te fazer feliz.

 

Escreva cinco palavras que descrevem seu humor

Bem, acho que humor é algo que você tem ou você não tem. (não?)

Raramente estou mal humorada. Raramente mesmo. Ainda mais medicada. Claro que há situações que não tem como fugir, e aquilo fica me corroendo. Tenho basicamente problemas de pobre: filas, calor, ônibus, banco, SACs de empresas podres, enfim. Desconforto físico é o que mais me incomoda. Não há a menor possibilidade de chegar da rua com fome, calor e bom humor ao mesmo tempo. Acho que nem se Marco Túlio estivesse me esperando. Não, péra.

Agora deixa eu contar algo incomum, que confessei uma amiga esses dias: detesto dar “bom dia”. Não, não acordo mal humorada. Só que não dou bom dia. Acho que jamais dei bom dia a alguém de casa. Formalidade demais a essa hora? Outro dia falei com um “chush” (toda jovenzinha), e ele disse “Bom dia”. Como assim? Tá falando com o porteiro?

Em sala de aula, minha saudação é “cheguei!”. Em minha defesa, é um “cheguei!” animadinho. Bom dia, não. Outra quase-regra é que pelo menos até às 10h da manhã, não pode fazer pergunta idiota. O tempo fecha. Não brigo. Não sempre. Só olho pro relógio e pergunto: “A essa hora já?”.

Meu médico costuma brigar comigo, porque não tenho nem a capacidade moral de caminhar pelo menos 30 minutos por dia. Ele diz que atividades físicas melhoram o humor saudavelmente, que poderia diminuir as doses dos remedinhos… mas, gente, eu não ligo. Se tem uma coisa que eu gosto de fazer na minha vida é dormir. Coisa maravilhosa. Por que, meu Deus, eu acordaria mais cedo para qualquer outra coisa que eu não fosse obrigada? Só queria, milagrosamente, perder uns quilos, mas até nisso estou conformada. Deixa minha barriguinha flácida em paz. Me deixem dormir muitas horas, por favor. Adoro.

Mas, isso pode mudar também. Do mesmo jeito que tem dias que eu acordo achando que a casa precisa ser arrumada, posso cismar que preciso caminhar pelo menos 30 minutos por dia, parar de comer frituras etc. Andei fazendo isso uma época atrás. Por quê? Porque entrei numa vibe que precisava cuidar da saúde. Durou até o dia que dei mau jeito no joelho, porque, né? Achei que sabia correr. Tem sempre uma época que acho que preciso fazer alguma coisa de bom para mim ou para o planeta. Ultimamente decidi que vou produzir menos lixo, mas esse é outro texto.

Agora um assunto que não tem absolutamente nada a ver com isso… Dia desses estava lendo um livro de contos de autores consagrados. As histórias terminam assim, do nada. Aí pensei: fico igual uma corna tentando dar um fim aos textos que escrevo, e esses fodões param assim DO NADA? Vou fazer isso também.

#UmaPerguntaPorDia #Diário #Rascunhos

Papai Noel não existe?!

Hoje substituirei a pergunta do diário por uma pergunta que uma amiga me fez: como você contou para Marina que Papai Noel não existe?

Gente, Marina nunca acreditou em Papai Noel. Por quê? Não sei! De repente me senti uma mãe destruidora de sonhos, e já imaginei minha filha fazendo terapia daqui uns anos, me citando toda vez.

Eu acreditava em Papai Noel. Não sei até que idade ou como descobri… Mas lembro perfeitamente o dia que meu pai me acordou numa madrugada de Natal dizendo que Papai Noel esteve lá em casa e deixou meu presente. COMO ASSIM PAPAI NOEL ESTEVE AQUI EM CASA E NINGUÉM ME ACORDOU? Traumático. Fiquei olhando para o céu, imaginando o trenó voando estilo propaganda linda da Coca-cola, enquanto eu dormia. Como eu queria ter visto! Tadinha.

Coelhinho da Páscoa, Fada do Dente… Nada. Marina nunca se encantou por nada disso. Mas, a história da sementinha usei bastante. Não tem como explicar para uma criança como ela entrou na barriga da gente. Foi mágica pura. Mas, no dia que ela descobriu a verdade, numa aula na escola, chegou com uma risadinha: “Descobri como entrei na sua barriga…a Tia explicou…tudo mentira isso de sementinha” (risadinha, risadinha, risadinha). “Ah é? Já que a Tia explicou, tá explicado, né? Não quero falar sobre isso. Para de rir!”. Não sei lidar. Meu nome vai sambar na terapia.

#UmaPerguntaPorDia

Quais são as três palavras que descrevem sua família?

Felipe, eu e Rafa
Felipe, eu e Rafa

Danielle. Felipe. Rafael.

Os três filhos de Wagner e Evanilda, meus pais. Este é o nosso começo. Minha mãe tinha 16 anos quando conheceu meu pai. Ela veio de uma família muito grande: dez irmãos. E desde que meu avô falecera, vivia com a família de seu irmão mais velho. Meu pai tinha 20 anos, e um emprego razoável. Desde então a assumiu financeiramente. Quatro anos depois se casaram.

Aos vinte anos, minha mãe deu a luz a uma menininha: eu. Parece que o parto foi complicado, nasci desmaiada, e assim justifica-se eternamente a minha preguiça. Sete anos depois nasceu Felipe, numa época que meu pai estava bem financeiramente e foi tudo perfeitamente bonito.Rafa nasceu três anos depois, quando meu pai passava por uma terrível situação financeira, e se tornou alcoólatra. Segundo minha mãe, em dias nostálgicos, nasci numa noite de chuva; Felipe num lindo dia de sol; e, Rafa, numa tempestade durante a madrugada.

Nossa família é marcada por instabilidades financeiras e emocionais. Meu pai tinha um bom emprego, mas não sabia administrar seu dinheiro. Minha mãe, aparentemente, não tinha muita voz nas decisões, mas ela sempre teve um poder emocional forte em relação a ele, e isso o irritava. Isso quer dizer que, por mais que tivesse todo poder sob sua família, ele cedia em algum momento. Não por parceria, não por companheirismo, não por reflexão. Bem, a melhor explicação é que…ele gostava dela, né? Mas, não pensem que ele cedia com amor. Era uma briga danada.

Nossa família sofreu muito com seu alcoolismo durante anos, mas minha mãe sempre nos manteve juntos, principalmente como irmãos. Ajudou muito meu pai… costurava pra fora, fazia unhas das amigas, toalhas bordadas para vender…Enquanto o dinheiro ia embora com bebidas e todo estrago que ela faz. Depois que ele passou a frequentar o AA, ficou sóbrio, e a família recuperou sua paz de espírito. Claro que as marcas ficaram, e ele se culpou muito pelo resto da vida.

Felipe lhes deu a primeira neta, Gabriella. Morava todo mundo na mesma casa… Era uma loucura. Quatro anos depois eu tive Marina. Aí, não dava mais para ficar todo mundo junto. Aluguei um apartamento e fui construir minha família com minha filha. Felipe saiu e voltou algumas vezes, até que veio Júlia. Aqui a gente costuma dizer que neto é que nem Copa do Mundo: vem de quatro em quatro anos. Daí, chegou Vicente.

Hoje, moramos juntas: minha mãe, Gabriella, eu e Marina. Voltei numa época em que Rafa estava saindo.

Tivemos muitos problemas quando meu pai faleceu. Brigamos muito. Mais que qualquer outra época de nossas vidas. Nossa vida particular estava péssima. Eu estava quebrada por conta do Estado. Não consegui manter minhas despesas. Felipe estava num emprego que não suportava. E Rafa, que tinha seu próprio negócio, não pôde continuar, porque ou ele dava conta do seu trabalho ou ele cuidava de toda família. Foi ele que cuidou de tudo. Tudo que a gente não tinha força pra resolver. Ele que cuidou da minha mãe. Ele que resolveu toda burocracia. Não tínhamos tempo de “curar” o luto. O tempo, caríssimos, não para.Toda nossa vida estava indo pelo ralo.

Lembro que depois do enterro do meu pai, eu quis ir pra minha casa. Rafa me ligou e disse que ia pedir pizza, e perguntou qual sabor a gente queria. Eu disse que não queria comer e que ficaria em casa. O pai de Marina, que ficou conosco uns dias, depois prepararia algo para eles. Alguns minutos depois, todos foram para minha casa. Eu senti que eles não queriam me deixar sem eles. E, acredito que eles também precisavam de mim. E terminamos aquele dia tão pesado da forma mais reconfortante possível: jantando juntos e relembrando momentos engraçados vividos com meu pai.

#UmaPerguntaPorDia #Diário #Rascunhos

Quem você deletou recentemente dos seus contatos?

#UmaPerguntaPorDia #Diário #Rascunhos

Bem, gente… O último contato que deletei foi um francês que conheci (na França? não) num app para quem deseja aprender/praticar outras línguas. Já tentei lembrar o nome, mas… minha cabeça é como? Isso. Não lembro. Mas, funciona assim: você se cadastra no app e busca quem quer conversar numa determinada língua. Faz parte do seu perfil qual idioma quer aprender e, talvez, aquele que também possa ensinar. No meu caso, queria alguém para me ajudar no Inglês. Apareceu um francês (Oui!), que, por coincidência, também procurava alguém para lhe ajudar no Português. Ok.

Falamos pouco, porque, né? Não conseguia um contexto para dizer “Put the gun down!”. Então, a conversa virava um monólogo depois do “I´m fine, thanks”. Muito ruinzinha. O fuso horário também não ajudava… Daí que ele me deu seu telefone para adicionar no Whatsapp. Pensei, pensei e não vi problema algum em adicioná-lo. Afinal, se fosse psicopata, estava lá da casa do %$#@#$. Ou não. Mas, como o telefone era de fora, não consegui imaginar uma rede sinistra de algo, tipo, sinistro.

Desinstalei o app, e até que tentei manter contato com o francês, mas… Fiquei com preguiça (oi?). Daí que, esses dias recebi uma notificação do Whatsapp avisando que eu estava num novo grupo. Porra, NOVO GRUPO. Mais 432 mensagens de bom dia, pensei. BUT (meu inglês profissional), veja bem, o suposto grupo, que me deixaria com ódio ao amanhecer, se chamava: “BRAZIL SEXY”.

(Print do meu Whatsapp)

Well, well, well…

Apesar de já saber do que se tratava, me fiz de doida para ver no que ia dar. Até que alguém disse, muito feliz (e salivando) que era um grupo de amizades e sacanagens. Bem, saí do grupo assim que me dei conta de que quanto mais eu ficasse ali, mais meu telefone ficaria exposto. Mas, mesmo assim ainda recebi duas tentativas de chamada de voz e vídeo.

Na mesma hora lembrei do francês. Ele não estava no grupo, mas… era a única explicação. Então o deletei e bloqueei. No entanto, depois pensei no app também. Não lembro (eu sou ótima) se é daqueles apps que pede o número de telefone para mandar mensagem e confirmar se você é você. É possível… A gente quase que faz isso toda hora.

Enfim, estou contando a história agora que estou tranquila, e não quis fazer um texto reflexivo sobre o problema. Sim, porque É UM PROBLEMA. Tentei relembrar as poucas palavras com o francês, e ABSOLUTAMENTE NADA foi tendencioso. Minha foto não é sugestiva. E no entanto, de repente, estou num grupo de sexo com brasileiras. Acho até que o app pode ser duvidoso, e, no fundo, seja para isso mesmo. Então, mesmo que eu não lembre o nome, fica o alerta. A gente se cadastra em tudo quanto é lugar, tudo quanto é teste, e… sei lá como nossos dados circulam por aí. “Podemos acessar seus dados? Não se preocupe, é sigiloso.” é o novo “só vou meter a cabecinha”.

Achei humilhante, e na hora conversei com uma amiga, que também ficou indignada. Há muitas questões discutíveis ao fato de ser adicionada, sem ser consultada, num grupo de “amizade e sacanagem”: MULHER. SEXO. BRASILEIRAS. E as ramificações.

As formas de agressão parecem que só evoluem.

Qual é a comida de que você mais gosta em um brunch?

#UmaPerguntaPorDia #Diário #Rascunhos

Rapaz, brunch. BRUNCH. Chega dá vontade de rir. Não sei que diabéisso.
O Google me diz que:

brunch
bɹʌntʃ/
1. substantivo masculino
2. CUL
3. refeição matinal que serve ao mesmo tempo de desjejum e almoço.

OUCEJE, é o café da manhã de quem acorda tarde?

Gente, eu não posso pular as perguntas do diário, senão eu vou começar a me sabotar. Mas, não existe café da manhã, brunch, whatever, melhor que pizza dormida, ou seja, aquela que sobrou do dia anterior (que talvez esteja cheia de formiguinhas se você não colocou na geladeira), com, claro, Coca-cola. Sinto-me rainha.

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(O melhor brunch da cidade é aqui)

O que você está tentando fazer?

#UmaPerguntaPorDia #Diário #Rascunhos
 

Reconstruir a minha vida, que foi totalmente devastada com a morte do meu pai, há dois anos.

Acho que a gente vai descobrindo as emoções conforme o tempo vai passando. Não me estenderei tentando descrever o que sinto, porque é extremamente doloroso rever esse filme. Outro dia me peguei relembrando os detalhes dos meus últimos momentos com ele. E a memória não era tão nítida. Eu estava esquecendo pequenos detalhes, e fiquei angustiada, porque não queria esquecer. Me culpei por quase perder algo tão valioso, e me prometi que lembraria todo santo dia, até, quem sabe, decorar.

Não posso fazer isso comigo. Não posso reviver aqueles momentos todos os dias. Minha cabeça não vai aguentar. Meu coração não vai aguentar. Tenho essa mania de tentar organizar minhas emoções: aqui posso sentir, aqui não posso, esse aqui coloco na prateleira de cima. Dá um trabalhão danado essa (suposta) organização… e não serve para nada.

Este ano percebi que pior que Dia dos Pais, pior que passar qualquer data comemorativa e nossos aniversários sem ele, é passar o aniversário dele sem ele. É o pior dia do ano. Mas, não há exatamente uma regra, como sempre gosto de me submeter. Um pequeno aborrecimento pode desencadear uma angústia horrorosa, assim como um dia importante pode passar, à medida do possível, “com êxito”.

Meu aniversário tem sido mais introspectivo. Sempre esperei pelo glorioso dia como uma criança. Eu mesma criava um roteiro de como seriam aquelas 24h (olha aí a mania) dividido entre meus amigos e família. Não gostava de misturar. Minha mãe não gostava do roteiro. Dizia que eles, a família, ficavam com “as sobras” no final do dia. Acho que ela nunca vai entender que meu coração não é tão ruim quanto ela pensa. Eu gostava de fechar meu dia com chave de ouro, cortando bolo e escolhendo o primeiro pedaço… Apenas nós. O amor que dou pra eles não consigo misturar com outros. É só nosso. O restante fica aqui, outro ali, e outro ali na prateleira.

Tenho vários projetos e planos infalíveis para superação, mas a verdade é que não mando em nada, não. Tento fazer a minha parte, mas tenho a sensação de que o universo é terrivelmente mais forte que eu, grão de areia.

Quais são os seus sapatos favoritos?

#UmaPerguntaPorDia #Diário #Rascunhos

Acho que eu deveria usar a desculpa da sustentabilidade para justificar meu número limitado de sapatos. Não saio muito, e meu trabalho não exige (ou não quero mesmo) algo mais cuidadoso… Então, tenho um tênis Adidas (citei a marca, porque sou limitada, mas sou estilosa) que uso todo santo dia para trabalhar. Uma sandália rasteirinha para dias muito quentes, e algumas sapatilhas/sandálias/sapatos para ocasiões específicas.

Dia desses joguei uma sandália fora, guardada há uns 5 anos, que nunca usei. Estava toda descascando. E nem foi barata, hein. Serviu para me provar que não adianta gastar com algo, só porque acho bonito, porém que não tem mais nada a ver comigo. Não adianta se jurar que vai-porque-vai arranjar um jeito de usar. Eu não uso mais sandálias de salto alto, gente.Quando a ocasião exige, prefiro nem ir. Sim, sou esse tipo de traste. Que nem roupa com número menor… Parei.

No entanto, tenho uma sandália muito, muito antiga, e que está maravilhosa até hoje. Altíssima. Costumava usá-la na época que eu saía à noite. Depois que engravidei só fui usá-la em dois momentos: para ir ao Jô e há uns dois ou três anos, na Festa do Livro na escola de Marina. Inclusive, desta última vez senti uma dificuldade enorme. Se eu não sabia andar de salto antigamente, ninguém me falou…Mas, hoje nem preciso me enganar. Preciso calcular friamente quantos passos precisarei depois que sair do carro até sentar. Depois é levantar, sem um passo a mais, desviando dos retardatários que querem conversar em pé, e ir embora.

Quando penso em “sapato preferido”, é quase que aquela calça jeans que já está velhinha, e você fica com o coração quebrado só de pensar que um dia ela não vai resistir e rasgar de vez. Não tenho esse tipo de sentimento com sapatos. BUT, a tal sandália antiga ganhou valor emocional. Pena que ela não me representa mais.

Tem alguém aí?

Bem, há séculos ando em crise para escrever. Eu sei… Sei que falo isso toda vez.

Já busquei várias explicações. Antigamente (cês lembram?), a gente praticamente escrevia para se comunicar e fazer amizades. Era divertido ler, comentar, trocar ideias com amigos blogueiros. Hoje “blog” tem outro sentido.

As redes sociais massacraram os blogs. Difícil ter um que seja pessoal, apenas para ser pessoal. O Facebook, Twitter etc. tirou a descontração. Para escrever um texto numa página que exige que o leitor clique num link que o leve para fora daquele universo mastigado… A gente tem que escrever “de verdade”. E esse “de verdade” dá uma preguiça danada.

Mas, olha só: comprei um diário “Uma pergunta por dia”. Hoje ele me pergunta: “O que você precisa fazer?”

Bem… Preciso estudar inglês. Afinal, voltei pra faculdade pra me graduar em Inglês, e só sei dizer “Put the gun down!”. Lembro uma vez que fui fazer um teste pra MTV (Oi?), e eu nem sabia falar os nomes das bandas. Pavoroso. Até já havia me conformado com meu inglês de seriado, e como uma boa velhinha, a preguiça de ler legendas me pegou, e estava achando as dublagens todas lindas. BUT, como estou sempre dando um jeito de bagunçar a minha cabeça, agora tenho que assistir em inglês sem legenda/inglês com legenda em português/português com legenda em inglês/inglês com legenda em inglês. Durmo toda vez.

O Google já viu meu movimento e me oferece todo tipo de curso grátis que tem que pagar. Então estou por aqui me virando sozinha, para que da próxima vez que o entrevistador me perguntar onde eu moro, eu não precise dizer “Faaaarrrr away from here”. (Juro!)

Estou tentando ouvir música também. Mas, minha playlist é toda com bandas dos anos 80/90. Não ouço rádio. Depois que vi o Adam Levine sem camisa no Rock in Rio, até passei a gostar do Maroon 5, mas na minha lista só tem a música que ele canta sem camisa. Eu sou horrível. Que tem de bom pra ouvir ultimamente, gente?

Escrevi três parágrafos de um possível diário. E se meu blog voltasse às origens? Tem alguém aí?